Capim

A grande maioria das pastagens é formada por capins de ciclo perene. Isso quer dizer que, ao contrário das culturas anuais, como milho, arroz etc., os capins devem ficar na área plantada permanentemente. Por esta razão, a escolha do capim tem que ser muito mais criteriosa do que a escolha de uma lavoura de ciclo anual, pois, no caso da lavoura, se o produtor não ficar satisfeito com a cultura plantada, pode mudar no ano seguinte. Portanto, a escolha do capim impacta diretamente o desempenho técnico e econômico de uma propriedade rural, pois, pelo menos teoricamente, é algo permanente.

O planejamento forrageiro identifica quais capins, devido às suas características, são mais apropriados para o sistema de produção e as características de solo e clima da propriedade rural e quais as opções técnicas de manejo são mais adequadas para essas plantas

Até o início dos anos 1980, o produtor rural brasileiro contava com um número muito reduzido de opções de capins, para serem usados na formação de pastagens. Atualmente, há um portfólio de opções de capins forrageiros, com adequação para diferentes situações de manejo, características de solo (fertilidade, textura, relevo e drenagem), clima e nível de intensificação (intensivo, semi-intensivo ou extensivo) do sistema de produção da propriedade rural.

Se por um lado, esse considerável aumento na diversidade de opções de capins forrageiros traz mais facilidade na escolha do capim mais apropriado, por outro aumenta a responsabilidade do produtor em fazer a escolha mais adequada para a sua situação particular.

Para facilitar a escolha do capim pelo produtor rural, a Embrapa disponibiliza um aplicativo chamado “Pasto Certo”. O Pasto Certo é um aplicativo gratuito para dispositivos móveis e desktop que permite o acesso, de forma rápida e integrada, às características das principais cultivares forrageiras tropicais lançadas pela Embrapa e outras de domínio público.

Qual o melhor capim?

Para responder a esta pergunta é muito importante lembrar que cada capim tem o seu limite máximo de produção (produção potencial) fixado geneticamente. Não é possível ultrapassar este limite.

Condições adequadas de solo e de clima, otimizadas pelo uso de insumos (fertilizantes, corretivos, defensivos etc.) e de práticas de manejo (manejo do pastejo e da pastagem) são essenciais para que o capim se aproxime da sua produção potencial.

Portanto, o “melhor capim” é aquele que eu posso minimizar, com insumos e práticas de manejo, as restrições de solo, de clima e bióticas (pragas, doenças e plantas daninhas) para que ele chegue o mais próximo possível da sua produção potencial. Sendo assim, não existe o “capim milagroso”, mas sim “manejo milagroso”. Esse “milagre” não é operado pelo capim, mas por quem maneja o capim. Assim, o sucesso de uma pastagem tem a sua base no manejo do pastejo, manejo da pastagem e, por último, no capim escolhido para essa pastagem

Classificação dos capins

Existem diversas maneiras de classificar os capins, de acordo com a sua adequação para as diferentes situações que podem ser do interesse do produtor rural. Duas importantes formas de classificar os capins dizem respeito às suas exigências em fertilidade do solo e a adequação ao nível de intensificação (ou nível tecnológico) da propriedade rural. Normalmente, a classificação quanto a exigência em fertilidade do solo está positivamente correlacionada com a exigência em intensificação para o uso adequado do capim. Assim, capins mais exigentes em fertilidade do solo, normalmente necessitam de um nível de intensificação maior, para poderem expressar a sua produção potencial.

De um modo geral, capins dos gêneros Panicum (Mombaça, Zuri, Quênia, Tamani, Tanzânia, Paredão e Aruana) são mais exigentes em fertilidade do solo, necessitando de adubação periódica e tendo melhor desempenho em sistemas mais intensivos. Também se enquadram nesse grupo alguns capins do gênero Cynodon, como o Tifton 85 e o coast-cross. Esses dois últimos são capins também recomendados para equídeos.

A exceção seria o capim-massai que é um Panicum, mas tem uma exigência em fertilidade do solo um pouco menor do que outros capins desse gênero. A estrela-africana também poderia ser adicionada e esse grupo.

Os capins do gênero Brachiaria são relativamente menos exigentes em fertilidade do solo e nível de intensificação do que a maioria dos capins do gênero Panicum. No entanto, isso não quer dizer que a adubação de pastagens e o manjo do pastejo deva ser negligenciada para esses capins. Os principais capins do gênero Brachiaria são o Marandu, Xaraés (MG-5 ou Toledo), Piatã, Paiaguás, Ipyporã, Ruziziensis, Tangola, Mavuno, Decumbens, Humidicola e Dictyoneura, ente outros. Dentre esses capins, a Humidicola e a Decumbens são os capins relativamente menos exigentes em fertilidade do solo e manejo.

Outros capins que também podem ser considerados como de exigência média em fertilidade do solo são o Andropógon e o Búfel.

Cada capim tem uma exigência particular de manejo, como a altura ideal para pastejo, qualidade nutricional, forma de propagação e de crescimento. O aplicativo “Pasto Certo” da Embrapa traz todas essas informações de forma detalhada. Outras formas de classificação dos capins dizem respeito ao valor nutritivo, tolerância a seca e ao encharcamento do solo, resistência à cigarrinha-das-pastagens e à suscetibilidade ao problema da Síndrome da Morte do Brachiarão (SMB) ou morte súbita. Dependendo da região na qual o capim vai ser plantado, essas classificações também devem ser levadas em conta para a escolha adequada do capim.  No aplicativo Pasto Certo é possível ter este tipo de informação. Uma classificação de alguns capins quanto à suscetibilidade à SMB também pode ser encontrada no link a seguir (https://bit.ly/3PW0UNQ).

A importância de monitorar a fertilidade do solo

O sucesso da implantação e manutenção de pastagens está fortemente relacionado aos cuidados com o monitoramento da fertilidade do solo. A análise química e física do solo é o primeiro passo para o correto monitoramento da fertilidade do solo em pastagens.

Qualquer decisão de correção e de adubação só deve ser tomada com base na análise do solo

De um modo geral, os solos da Amazônia são relativamente pobres em fósforo, sendo esse portanto um nutriente essencial para a formação e manutenção de pastagens. Em seguida, podem também serem limitantes o potássio, cálcio e magnésio. Quando isso ocorre, geralmente o pH do solo também deve ser corrigido por meio da calagem, porém, a decisão da necessidade de calagem só deve ser tomada com base na análise de solo e no tipo de capim existente na pastagem.

Infelizmente, existe uma cultura na Amazônia que reputa o calcário como sendo “a solução para todos os problemas da pastagem”. Isso, tem, algumas vezes, levado a um exagero no uso desse insumo o qual pode ser prejudicial, do ponto de vista agronômico e econômico.

É importante o produtor saber que a quantidade de calcário aplicada depende do pH, textura, CTC ou saturação de bases do solo. Solos arenosos precisam de menos calcário do que solos argilosos. Portanto, em solos arenosos, o ideal é aplicar menores quantidade, com mais frequência, para evitar a supercalagem (excesso de calcário). O excesso de calcário (sobretudo em solos arenosos) pode causar deficiência de Fe, Mn, Zn, P e K na planta. A supercalagem é relativamente comum, quando se aplica o calcário em cobertura, em pastagens já formadas.

Outra informação importante sobre o calcário é que ele reage muito lentamente no solo, por isso deve ser aplicado de seis a oito semanas antes da semeadura da pastagem.

Com relação ao nitrogênio, é importante o produtor saber que a necessidade de adubações nitrogenadas na pastagem é diretamente proporcional ao nível de intensificação do sistema de produção. A adubação com N aumenta a exigência da planta por outros nutrientes. Portanto, antes de adubar com N, deve-se melhorar a fertilidade do solo da pastagem. A adubação com N aumenta a taxa de lotação. Consequentemente, se eu adubar com N, vou precisar de mais animais para consumir o excesso de forragem produzida. A adubação nitrogenada exige um manejo muito cuidadoso pós-adubação. Ou seja, manejar pastagens adubadas com nitrogênio é tarefa para profissional experiente.

Moacyr Bernardino Dias Filho, Eng. Agrônomo,M.Sc., Ph.D.

Eng. Agrônomo, Mestre em Pastagens, Ph.D. em Ecofisiologia vegetal.

Atividade e local onde a exerce: Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA

Contato: moacyr.dias-filho@embrapa.br, https://www.instagram.com/moacyrbdiasfilho/

https://www.youtube.com/@MoacyrBernardinoDiasFilho/

https://diasfilho.com.br/

https://diasfilho.com.br/old/Publ_Pastagens.htm

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *