Memórias – HARAS JS DA MARAJOARA

Tudo começou com meu pai Alvino Maestri, no município São Gabriel da Palha/ES, Fazenda Sete Quadros, nos idos de 1.980, tendo como marco o dia dez de março do ano de 1983 com registro nº. 3846-6, na ABCCMM – Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, sob o sufixo Assaré, nome que surgiu inspirado na dupla sertaneja, Patativa do Assaré.

Usávamos cavalos para a lida com o gado rustico que criávamos em regime extensivo em área relativamente grande. 

Usávamos cavalos sem registro, desde antes de 1983, oportunidade que adquirimos os garanhões Caloroso da Idalina e Califa da Idalina, animais registrados, adquiridos do criador Varder Machado, que usamos na formação do plantel. Seus produtos foram registrados em livro aberto.

Registrado o Haras, partimos para aquisição de matrizes e do saudoso Sr. Elifas Venturim, adquirimos cinco éguas: Rainha J8, Brasilândia da Brasilândia, Cinderela da Nova Esperança, Gazela da Nova Esperança e Carina da Nova Esperança.

Difícil e trabalhosa, foi a aquisição da Gazela, pois pertencia a Srª. Eni, esposa do Sr. Elifas, que por este motivo, não a queria vender. Argumentei que o lote, sem a Gazela, ficaria incompleto e felizmente, após um ou dois dias, ele conseguiu convencer a esposa e adquirimos a égua. Estas foram as primeiras éguas que compramos, marcando início da reprodução do Haras Assaré.

Os produtos destas cinco éguas, nasceram sob o sufixo Assaré, iniciando assim a formação do plantel.

Tendo surgido a necessidade de um garanhão, para injeção de “novo sangue”, Rubens Caldas Peçanha (Rubinho), infelizmente já falecido, técnico da ABCCMM à época, indicou-nos, um potro, de nome Jubileu da Esmeralda, filho do Cafundó Ouro Fino na   Ara Renúncia, de propriedade de Eduardo Bahia Sabak, que foi adquirido e veio a fixar-se, por muito tempo, como nosso reprodutor.

Não Participávamos de exposições até que meu irmão Paulo, Zootecnista por profissão, tomou a iniciativa e a atitude, de levar o Jubileu a uma exposição em Cariacica no Estado do Espirito Santo, exposição esta que marcou a inauguração do Parque Estadual.

Nesta oportunidade o Jubileu sagrou-se Campeão e meu irmão foi convidado a leva-lo a um leilão na Boate Scala, na cidade do Rio de Janeiro.

Paulo, então, empolgado com a participação e o sucesso do Jubileu, situando-se na cabeceira do leilão, não resistiu aos lances e acabou vendendo o cavalo.

Daí em diante, foram usados vários garanhões culminando com a criação do sufixo Cricaré em 28.10.1997 sob matrícula 17801-2.

A criação sob este sufixo foi comigo compartilhada e quando vim para o Pará, em 1.994, trouxe a paixão, porém a tropa ficou, já aqui, na cidade de Don Elizeu/PA, criei, no dia vinte e seis de agosto de 2004, o sufixo JS da Marajoara, registrado sob nº. 20937-6.

Trouxe então vinte éguas criação com sufixos Assaré e Cricaré.

As mais significativas foram: Duquesa do Assaré, Colatina do Assaré, Oba do Assaré, Canária do Assaré, Dama do Assaré e Dádiva do Cricaré.  

De lá para cá, passarn-se 20 anos da criação do Haras JS da Marajoara e do início da criação do sufixo Assaré, origem dos sufixos Cricaré e JS da Marajoara, contamos 41 anos de criteriosa seleção do Mangalarga Marchador de marcha batida.

Aqui no Pará, tive a oportunidade de migrar para uma vertente do Mangalarga Marchador que melhor atendia meu gosto e expectativa, pois as decisões eram somente minhas.

Durante este tempo usamos garanhões outros, porém os de destaque foram: Cobalto da Joatinga, campeão nacional de marcha, Zepelim de Alcateia, Reino JB da Ogar, Iguaçu JS da Marajoara, Galante JS da Marajoara, Urânio do Chicote e mais recentemente, Omã de Alcateia e Albion R.S que foram formadores de nosso plantel.

À época, a égua Zabelê de Alcateia deu visibilidade a nosso Haras.

Esta égua produziu Darlene JS da Marajoara que a conselho dos técnicos de julgamento, Paulo Lobo e André Quadros em uma exposição na cidade de Castanhal/PA, no ano de 2008, onde participava como potra mirim, recomendaram treinamento em local de maior recurso, dada a sua qualidade.

A enviei então para o Haras Cricaré, que à época dispunha de melhores recursos técnicos.

La participou de exposição em Itapemirim/ES em fevereiro de 2009, na qual sagrou-se reservada campeã potra, concorrendo com 181 animais.

Exposição em Nanuque/MG, junho/2009 sagrando-se Reservada Campeã potra maior, disputando com 140 animais.

E muitos outros prêmios totalizando hoje 41 títulos.

Em 2011, junto com Obsessão do Dão, também de minha propriedade, foi para central de embriões em Juiz de Fora/MG, lá produziram mais de dez frutos e um destes Iguaçu JS a Marajoara, em consórcio com o Haras Aluar, de propriedade do amigo Ubaldo Davi Cruz, encontra-se ainda conosco, produzindo.

Durante este tempo, várias parcerias se efetivaram, porém ressalto a parceria com o Haras Linda Inês, propriedade de José Alípio Leão Bordalo, que de forma incondicional mantemos até os dias atuais.

Albion R.S, um sonho que só se realizou em 30.05.2022, decorridos seis anos, porém valeu a pena.

Importante foi a participação e opinião de minha esposa Solange, parceira e companheira de todas as horas, que comigo participava das cavalgadas e sempre reclamava: “sempre monto em animais duros, desconfortáveis”. Selecionei então algumas équas e ela montou em Zabelê de Alcateia, cavalgou todo o passeio e declarou: “até que enfim você me deu um animal bom para montar”.

Isto foi para mim um claro sinal que eu estava no caminho certo e dentro deste critério, conduzo o Haras JS da Marajoara até os dias atuais.

Minha referência não foi inicialmente a morfologia e sim comodidade, conforto e docilidade.

Entendo a paixão por esta raça propagada aos quatro ventos e com ela comungo, entretanto, a persistência, convicção, resistência e superação das dificuldades, foi fundamental para que atingíssemos nossos objetivos, levando adiante nosso projeto.

Nessa longa jornada sempre tive o apoio da ABCCMM – Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador e do NCCMMA – Núcleo dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador da Amazônia do qual fui, com muito orgulho, Presidente.

O saudoso Dr. Manoel Pereira Junior, técnico da ABCCMM, nos deu significativo apoio, o Presidente Dr. Magdi Shaat, em sua gestão, disponibilizou aos criadores conhecimento e estreitamento de amizades o que fortaleceu a todos nós.

Como parte do apoio recebido da ABCCMM, veio para assistir-nos o Dr. Murilo Torres, que com seu vasto conhecimento foi peça fundamental no aprimoramento de nossa criação e desenvolvimento dos criadores de nossa região.

Nos dias atuais contamos com a assistência do Dr. Marcio Gianordoni, também técnico de registro da ABCCMM, que nos apoia, com competência, empatia, solidariedade e disponibilidade.

Os colegas criadores que se localizam na área de abrangência do NCCMMA, foram sempre muito parceiros, não citarei nomes para que não seja injusto me esquecendo de alguém, porém agradeço a todos pela estreita participação e por estarem sempre disponíveis para a troca de ideias e informações.

Muitos se tornaram amigos e agradeço ao Mangalarga Marchador que a todos agrega, sendo na verdade “o cavalo da família”.

Esta integração e colaboração propiciou discussões quanto a melhoria da raça, sua divulgação e atração de novos criadores, sem deixar de lado a parte econômico/financeira. Esta integração e troca de experiências sempre foi muito produtiva.

Na verdade, sempre buscamos viabilizar a criação de forma econômica, sem prejuízo da qualidade e do bem-estar animal.

Agradeço a minha família e ficaria ainda mais feliz se meu pai pudesse ver onde chegou e o quanto evoluiu a semente que ele plantou.

Agradecimento especial a minha esposa Solange que sempre me apoiou, participou e incentivou, a meus filhos que com resiliência, paciência, muita compreensão e algumas renúncias, até hoje me incentivam a prosseguir na manutenção de meu sonho e paixão.

Agradeço a minha mãe que sempre me apoiou e até hoje me apoia, sempre com muito amor, carinho e compreensão.

Registro do emocionado relato de João Regis Dalla Maestri – Haras J S da Marajoara.

Don Elizeu/PA, 22 de junho de 2024.

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