

A pecuária brasileira, reconhecida mundialmente pela sua força produtiva, enfrenta uma ameaça cada vez mais preocupante: o avanço do capim-capeta, nome popular dado ao gênero Sporobolus spp.. Também conhecido como capim-pt, barba-de-paca, bufa-de-mineiro e capim-barbante, essa planta daninha vem se alastrando por áreas de pastagens em todo o país, comprometendo a produtividade e o valor econômico das propriedades rurais.
Estima-se que cerca de 30 milhões de hectares de pastagens estejam sendo impactados por infestações do capim-capeta, com maior incidência nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. O problema, no entanto, ainda é subestimado tanto por produtores quanto por políticas públicas, o que agrava a sua expansão.
Como o capim-capeta se espalha?
A disseminação do Sporobolus ocorre principalmente por meio de suas sementes microscópicas – uma única planta pode produzir até 200 mil sementes por ano, que permanecem viáveis no solo por até 10 anos. Essas sementes possuem uma mucilagem pegajosa que as faz aderirem a calçados, pneus, equipamentos agrícolas, fezes de animais e até mesmo à água da chuva, facilitando seu transporte e colonização de novas áreas.
O ciclo de infestação se inicia com a germinação das sementes em locais com cobertura vegetal deficiente. O crescimento acelerado das plantas de Sporobolus causa superpastejo, enfraquecendo ainda mais as forrageiras desejáveis e abrindo caminho para uma invasão em larga escala.

Sporobolus como indicador de degradação
Importante destacar que o capim-capeta não é a causa primária da degradação das pastagens, mas uma consequência direta dela. Sua presença é um forte indicativo de solos mal manejados, compactados, sem adubação adequada e sujeitos a práticas como o pastejo excessivo e queimadas. Portanto, o surgimento dessa gramínea deve servir de alerta imediato para revisão do manejo da área.
Por que ele é tão difícil de controlar?
Além da ampla produção e dispersão de sementes, o capim-capeta apresenta alta rusticidade e competitividade, prosperando em condições adversas como seca, solos pobres, queimadas e frequente roçagem. Outro fator agravante é a sua baixa aceitabilidade nutricional, o que significa que o gado evita seu consumo, principalmente quando a planta está em fase reprodutiva (com pendões), devido ao alto teor de fibras e risco de desgaste dentário ou formação de fitobezoares.
Impactos econômicos e produtivos
A invasão de Sporobolus reduz drasticamente a produtividade das pastagens, interferindo na produção de carne e leite. Além disso, a presença desse capim pode depreciar o valor comercial da propriedade rural, tornando algumas áreas inviáveis para a atividade pecuária. O desafio do controle também impõe altos custos, tanto no manejo quanto na renovação das áreas atingidas.
Prevenção e controle: o que o produtor deve fazer
A prevenção ainda é a melhor estratégia. Isso inclui:
- Monitoramento das áreas de entrada e circulação dentro da propriedade;
- Criação de “pastos quarentena” para animais oriundos de áreas suspeitas;
- Limpeza e controle do trânsito de máquinas e implementos agrícolas entre áreas infestadas e não infestadas;
- Eliminação imediata de plantas isoladas antes que produzam sementes;
- Adubação e manejo adequado do pastejo para manter pastagens vigorosas;
- Uso de capins com crescimento acelerado e boa cobertura do solo, especialmente em áreas com histórico de infestação;
- Aplicação direcionada de herbicidas, como o glifosato, em infestações leves, com cuidados para evitar danos às forrageiras.
Em infestações mais graves, pode ser necessário o uso da estratégia de integração lavoura-pecuária (ILP), com cultivo agrícola temporário para controle da planta e esgotamento do banco de sementes no solo antes da renovação da pastagem.
O papel do produtor rural na contenção
O combate ao capim-capeta exige vigilância constante, educação dos colaboradores da fazenda e ações integradas. Não se trata apenas de eliminar uma planta invasora, mas de adotar uma nova postura de manejo consciente e sustentável da pastagem.
Cada planta que é deixada no campo representa centenas de milhares de novas sementes, prontas para reiniciar o ciclo de infestação. Por isso, qualquer esforço no sentido de prevenção e controle é não apenas justificável, mas essencial para a manutenção da atividade pecuária no Brasil.
📌 Fonte: “A ameaça do capim-capeta (Sporobolus spp.) para a pecuária no Brasil”
Autor: Moacyr Bernardino Dias-Filho, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental – Circular Técnica 55, Embrapa, junho/2025.